“Era
uma vez... em Hollywood” é sem dúvida um dos filmes mais aguardados do ano.
Trata-se do nono e talvez penúltimo filme da carreira de Quentin Tarantino
(Tendo em vista que o cineasta já disse que pretendia fazer apenas 10 longas
metragens e depois, se aposentar). O filme se passa no ano de 1969 e conta a
história do astro da televisão Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) e do seu dublê
Cliff Booth (Brad Pitt). Hollywood está mudando e ambos tentam se adaptar a
estas mudanças. Também acompanhamos a vida da atriz Sharon Tate (Margot Robbie)
e a ascensão da seita de Charles Manson, que foi responsável pelo brutal
assassinato da atriz na vida real.
É
notório que Tarantino se tornou bastante popular e que conquistou muitos fãs ao
longo dos anos devido ao estilo que emprega em seus filmes. Bastante sangue e
violência gráfica, diálogos descolados sobre cultura pop, histórias
mirabolantes que se cruzam e mais sangue e violência. Agora, se você espera
mais um filme assim do diretor, é bem provável que saia do cinema decepcionado.
“Era
uma vez... em Hollywood” é talvez o filme mais maduro de Quentin Tarantino desde
“Jackie Brown (1997)”. E é, sem dúvida, o filme mais afetuoso do cineasta.
Claro que ele não abandona suas características citadas acima, mas as aborda de
maneira diferente do habitual. As referências sobre a cultura pop não
entram aqui apenas como algo “descolado e cool”, mas como uma nostalgia por
essas. Embora, isso faça com que tais referências soem deslocadas para os
espectadores que não possuem conhecimento prévio das mesmas, já que o filme não
faz questão de explicá-las. Porém, isso é um mero detalhe comparado a outros
méritos do longa.
Quanto
a violência mostrada (pelo menos nos dois primeiros atos) é quase nula. No
começo, o máximo que se vê dela está nas séries de TV e nos filmes apresentados
dentro do próprio filme. E mesmo essa, não é tão gráfica e explícita, mas suave
como a violência da década de 60 costumava ser. Aliás, o filme é justamente
sobre isso, a nostalgia pela Hollywood do final da década de 60.
Quentin
transforma essa Hollywood saudosista num lugar mágico e fantasioso. E toda essa
fantasia é vista na figura de Sharon Tate, que é interpretada de maneira
graciosa por Margot Robbie. Ela é menos uma personagem e mais uma
representação dessa cidade idealizada. Sempre tão pura e inocente quanto aquele
mundo de astros e artistas. Porém, uma ameaça paira sobre esse mundo: a
mudança. Representada tanto pela brutal e imprevisível família Manson, quanto
pela própria Hollywood, que parece o tempo todo clamar por novos astros.
É
aí que entram os personagens de Rick Dalton e Cliff Booth divinamente
interpretados por Leonardo DiCaprio e Brad Pitt. Rick quer voltar a ser um ator
famoso como era antigamente e Cliff quer voltar a trabalhar com o amigo como
seu dublê. Ambos personagens representam uma tentativa de resistir à tais
mudanças de todas as maneiras possíveis.
Tarantino
mostra aqui, de maneira bem afetuosa e até mesmo carinhosa, a vida e os dramas
de seus personagens, embora isso torne os dois primeiros atos um pouco
cansativos devido ao tempo se estendem. Porém, essa demora é compensada com a
chegada do terceiro ato, onde tudo acaba mudando, ou melhor, se restaurando. (O
próximo parágrafo entrará em forte território de spoiler. Se você não viu o
filme, recomendo que pule o parágrafo).
Ao
terceiro ato, parece que a tal mudança de Hollywood vai ser de efetuada com o
brutal assassinato de Sharon Tate pela família Manson. Até que Tarantino faz o
mesmo que fez há 10 anos atrás em “Bastardos Inglórios (2009)”, muda a
trajetória dos fatos. Ao matar os integrantes da seita de Manson (de maneira
bem catártica, inclusive), Quentin não só vinga o assassinato de Sharon, mas o
assassinato de toda aquela Hollywood idealizada. Assim, restaurando-a. O final
ilustra bem isso. Rick Dalton, após expurgar aquele mal como seu último ato de
resistência à mudança é “recompensado” por Sharon, que seria a vítima daquele
mal. Sendo assim, o filme se fecha numa chave de esperança de que Hollywood
poderá voltar a ser aquele lugar fantasioso e mágico como era antes.
“Era
uma vez em... Hollywood” é um filme sobre a idealização nostálgica de toda uma
era. E que acredita nessa nostalgia como uma força revitalizadora e capaz de
mudar a própria realidade. Dessa maneira, salvando a magia do cinema e de Hollywood da
inevitável mudança.
Nota: 4/5
★★★★☆
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